Os riscos da colonterapia. O que você precisa saber!
Um bom exemplo do que podemos classificar como risco associado à informação de qualidade ruim é a divulgação da colonterapia ou hidrocolonterapia, lavagem do intestino grosso com o objetivo de “desintoxicar” e “reabilitar” o órgão, “melhorar” a imunidade e “prevenir” uma série de enfermidades. Uma rápida pesquisa no Google nos oferece aproximadamente 643 entradas para colonterapia; 936 para hidrocolonterapia e aproximadamente 19.500 para lavagem do intestino grosso. O problema é que não são disponibilizadas informações sobre os riscos inerentes a este método nada científico, o que deixa o leigo à mercê da sorte.
O “tratamento” deriva da teoria da “auto-intoxicação” que causaria um “envenenamento” do organismo decorrente da constipação intestinal (prisão de ventre). O problema é que tal teoria foi abandonada por volta do ano de 1920 (!!!), após diversos estudos científicos demonstrarem que os sintomas apresentados pelos pacientes constipados, tais como dor de cabeça, fadiga e inapetência, por exemplo, na verdade são decorrentes da distensão mecânica do cólon e não por toxinas formadas a partir da retenção.
A isto se soma o fato de não haver licença ou treinamento exigido para operar um equipamento de irrigação do cólon – prática que já foi condenada pelo National Council Against Health Fraud, órgão norte-americano que avalia tentativas de fraudes na área da saúde. Da mesma forma, o órgão americano que regulamenta os medicamentos e equipamentos médicos (Federal Drug Administration – FDA) não aprova os equipamentos disponíveis para realização de tal prática, proibindo sua comercialização legal.
Essa descrição serve bem para ilustrar os riscos a que os leigos ficam sujeitos ao “consumirem” informações equivocadas, transmitidas em suposto tom científico. Para se ter idéia da extensão do problema, basta uma análise a respeito dos erros decorrentes da hidrocolonterapia, como as perfurações do reto e peritonite secundária, com necessidade de intervenção cirúrgica. Há também casos descritos de insuficiência cardíaca e transmissão de doenças como a amebíase, decorrente da limpeza inadequada do equipamento reutilizado.
Muitos dos pacientes que procuram as clínicas de colonterapia/hidrocolonterapia, ou ainda as que oferecem um outro “milagre”, a auto-hemoterapia (aplicação intramuscular de sangue da própria pessoa), iniciam seus “tratamentos” sem passar por avaliação prévia, o que aumenta ainda mais os riscos de complicações. Portanto, vale o alerta: antes de adotar qualquer conduta supostamente terapêutica, consulte um médico da sua confiança.
Dra. Lucia de Oliveira
Doutora em Cirurgia pela Universidade de São Paulo
Fellow em Coloproctologia pela Cleveland Clinic Florida (EUA)
Chefe do Setor de Fisiologia Ano-retal e Coloproctologia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro
Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e Colégio Brasileiro dos Cirurgiões
Membro da Associação Brasileira de Prevenção do Câncer do Intestino (Abrapreci)